Ela sabia. Ele andava por ali, a rondar as casas, a cheirar as esquinas, a marcar o território das almas sombrias. Não me metes medo, disse a rapariga. Tenho no bolso uma pedra afiada, sei uma cantilena para adormecer os ursos e as marmotas e o gelo quebra-se se eu soprar de mansinho num dia de chuva talvez. 
Ele não respondeu, invisível, surdo, indiferente. Falava a linguagem dos loucos em frente a uma parede branca e vazia. A rapariga calou-se, encostou a cabeça ao vidro e ouviu nitidamente as vozes das crianças perdidas a chamar.
 

Winter lullaby de Samanta